segunda-feira, 29 de março de 2010

Construir a paralisação do dia 30 ao lado dos trabalhadores da USP!

As últimas assembléias dos trabalhadores da USP encheram o auditório da História, expressando a disposição que este setor tem de levar à frente as mobilizações na USP. O que o Sintusp vem discutindo com eles, e que o DCE dirigido pelo MES/P-SOL se recusa a fazer entre os estudantes, é a farsa que Rodas procura impor através do seu discurso de um suposto “diálogo”. Por saber que os trabalhadores e o Sintusp representam um setor politicamente ativo na universidade e avançado na luta contra a precarização do ensino, o favorito de Serra não tardou a mostrar a que veio e começou a sua missão política: concedendo aumento para os professores por fora das negociações com o fórum das seis e quebrando a isonomia salarial, ao mesmo tempo em que dá dinheiro à calourada do DCE e enche os estudantes de promessas demagógicas, Rodas pretende isolar os combativos trabalhadores da USP. Mas não será tão fácil calar o Sintusp quanto tem sido calar o DCE.

A partir das discussões em assembléias, o Sintusp mostra que não pretende abafar as importantes lutas que ocorreram no ano passado, quando levantaram uma greve pela defesa de seu sindicato, contra a demissão de Brandão, mas que também incluía a defesa do ensino público, com a demanda do fim da Univesp (que na semana passada Rodas implementou na USP com uma canetada). Assim, os trabalhadores deliberaram por uma paralisação e um ato nesta terça-feira, 30/3.

Cabe a nós, estudantes que não aceitam ficar reféns da política de inércia da atual gestão do DCE e da maioria dos CAs, cercar os trabalhadores de solidariedade ativa neste momento, mostrando que estamos dispostos a seguir unificados na luta contra a precarização do ensino e pelo direito de organização política e sindical dos estudantes e funcionários da universidade. Em 2007 os estudantes estiveram na linha de frente na luta contra os decretos de Serra, e tanto neste ano quanto em 2009 mostramos o potencial que a aliança de trabalhadores e estudantes tem para enfrentar as políticas de precarização do ensino e de repressão na USP.

Na semana passada um bloco de 50 estudantes da USP compareceu ao ato dos professores da rede estadual, levando faixas e cartazes e se unificando com estudantes da Unicamp, Unesp, PUC e Fundação Santo André, mostrando que há uma parcela dos estudantes dispostos a construir esta luta e sabendo que ela não pode se restringir aos muros da universidade. Não há como derrotar Serra e seu capacho, Rodas, sem construir uma luta unificada de todos os setores que hoje são atacados por sua política, e neste combate nossos principais aliados são os trabalhadores da USP e os professores do estado, que após uma dura repressão por parte da PM na última sexta-feira, sairão com sua greve às ruas novamente no dia 31/3.

Por isso chamamos todos os estudantes a se incorporarem ao ato dos funcionários da USP nesta terça-feira, 30/3, com concentração a partir das 10h no prédio da História.

E também ao ato dos professores do estado no dia 31/3, às 15h, na Paulista (concentração do bloco dos estudantes da USP às 14h na escadaria da Gazeta).

terça-feira, 23 de março de 2010

Todos juntos contra Serra, Rodas e a precarização do ensino!

O Movimento A Plenos Pulmões junto com o Pão e Rosas está construindo a solidariedade ativa à greve dos professores a partir das Universidades e escola onde atuamos. Na última sexta-feira, 19/03, estivemos lado a lado dos professores no bloco do Movimento Classe contra Classe, com estudantes da Fundação Santo André, PUC-SP, USP e vários campi da Unesp. Juntos cantamos "Hoje são eles, amanhã seremos nós. Professor e estudante nossa luta é uma só!"
Compreendemos que a luta contra as políticas de precarização do ensino de Serra afetam não apenas a escola pública, mas também está dia-a-dia na Universidade, como, por exemplo, através da Univesp, da falta de condições para permanência estudantil (que levou à ocupação da Coseas) e de todos os ataques perpetrados por Rodas.
Por isto devemos lutar unificadamente. Abaixo, o cartaz que estamos espalhando pela USP:





Carta do Movimento A Plenos Pulmões aos estudantes de Letras

Carta aos estudantes de Letras e ao Caell

O nosso curso abriga o maior número de estudantes em toda a USP. É daqui também que sairão grandes contingentes de professores para ingressar na rede pública de ensino. Isto faz com que, por diferentes aspectos, tenhamos necessidade e responsabilidade em refletir a situação da educação.
A começar pelo ensino básico, não é novidade para absolutamente ninguém dizer que a situação é bastante alarmante. Há tempos a escola pública passa por um processo de desmanche. A lista dos ataques que os professores sofrem é bem extensa; entre eles podemos citar o arrocho e congelamento que garantem um dos menores salários de professores estaduais do país; a divisão entre os efetivos e os temporários (48% de toda a categoria!) que não tem uma série de direitos básicos; as péssimas condições de trabalho; a ausência de autonomia didática diante das famigeradas apostilas do governo; entre tantas outras. A greve dos professores da rede pública hoje é uma medida concreta de luta contra estes ataques ao ensino. Suas reivindicações centrais são por melhores salários, contra as absurdas avaliações de professores que implementam divisão salarial e responsabilizam os professores pelo estado calamitoso da educação pública, e contra as inúmeras leis que atacam o ensino básico. Sua greve está forte e continua crescendo, ao contrário do que diz o governo Serra, que afirma que apenas 1% da categoria está parada (havia mais do que isso só no ato realizado na semana passada na Av. Paulista, que teve mais de 40.000 professores). Esta é a greve mais importante em curso hoje no país.
A precarização do ensino nos afeta não apenas como futuros professores, mas também como estudantes universitários, e na Letras ela é ainda mais intensa do que na maioria dos cursos. A “promoção” de Rodas, o favorito de Serra, como novo reitor da USP, tem a intenção de aprofundar as medidas com este caráter. O aumento de 45% das verbas destinadas à terceirização; a falta de verbas para a construção de um prédio que efetivamente possa atender às necessidades do curso; a falta de apoio da universidade para que os estudantes mais pobres possam estudar (falta de moradias, bolsa trabalho, etc.); expulsões noturnas de estudantes do Crusp; o fortalecimento das fundações de direito privado e outras medidas privatizantes e que direcionam os recursos da Universidade apenas para áreas com interesses ligados ao mercado e a empresas privadas; a implementação da Univesp (universidade virtual centrada em cursos de licenciatura, como pedagogia, ciências, português, etc. – o futuro professor sem direito à sala de aula).
A política de Serra e de seu escolhido Rodas é a mesma: dividir para derrotar. No ensino básico a divisão entre efetivos e temporários, e agora também entre os próprios efetivos com as diversas categorias baseadas nas provas de promoção. Na universidade Rodas aprofunda a divisão entre trabalhadores aumentando a terceirização; entre professores e funcionários concedendo aumentos apenas aos docentes e quebrando a isonomia salarial; entre estudantes prometendo migalhas e conseguindo calar o DCE, que já aceita calado até a implementação da Univesp (ignorando as balas de borracha e bombas de gás em 2009 sob as ordens do magnífico reitor, quando nem era reitor ainda).
Os terceirizados constituem a parcela mais explorada e com menos direitos dentre os trabalhadores da USP, e são constantes as novas ofensivas sobre eles. Atualmente os trabalhadores da empresa Personal estão há três meses sem receber salários e Rodas já se pronunciou no Conselho Universitário dizendo que está cansado de terceirizados batendo à porta da reitoria e que não é sua responsabilidade resolver este problema. Além disso, o Sintusp foi proibido por liminar da justiça de defender os trabalhadores terceirizados, estando sujeitos a uma multa de dez mil reais se o fizerem! Nós podemos fazer a diferença nos colocando ao lado destes trabalhadores lutando pelos seus direitos e dizer a Rodas não admitiremos mais trabalho semi-escravo nesta universidade e nem sua demagogia.
Temos que dizer chega! Nós só conseguiremos derrotar os ataques se conseguirmos nos unir dentro da universidade enfrentando a demagogia de Rodas e nos lançando decisivamente para construir uma sólida aliança com nossos maiores aliados em defesa da educação pública, que são os trabalhadores da USP e os professores em greve há mais de duas semanas contra a precarização do ensino. Em 2000, quando os estudantes e funcionários da USP se uniram em uma forte greve, pela primeira vez demonstraram o potencial dessa aliança, derrubando um projeto de lei que previa a cobrança de mensalidades na USP. Em 2007 conseguiram questionar os decretos de Serra. Em 2009, levamos a luta contra a Univesp e pelo Fora PM. Agora é hora de aprofundarmos esta aliança não apenas aqui, mas para fora dos muros da universidade, sabendo que os trabalhadores da USP e seu sindicato, o SINTUSP, e os professores do ensino básico são nossos principais aliados e que lutamos por um só objetivo: contra as políticas de precarização do ensino.
É fundamental debatermos como desmascarar Rodas hoje, quando a gestão do DCE recebe dinheiro da reitoria para a sua calourada em troca de não dizer uma palavra contra Rodas, aumentando a ilusão em seu suposto “diálogo”. Ainda mais sabendo que este mesmo DCE quer tomar suas decisões por fora de um debate com o conjunto dos estudantes, como ficou claro no último Conselho de Centros Acadêmicos (CCA), em que aprovou a pauta dos estudantes para o Fórum das Seis (que reúne as entidades de professores, estudantes e funcionários das três universidades estaduais paulistas) que inclui absurdos como uma comissão para “acompanhar a implementação da Univesp”. Precisamos lembrar a todos a verdadeira face de Rodas, que foi o responsável por colocar a PM dentro do campus para reprimir manifestações, a começar pela Faculdade de Direito que dirigia em 2007 quando chamou a tropa de choque.
Hoje o Caell se cala diante da posição do DCE que quer negociar com Rodas pelas costas dos estudantes. Alem disso, diante do novo ataque proposto pelo Serra, a terceirização do ensino de línguas nas escolas públicas, o CA tem organizado os estudantes para pressionar os deputados na Assembléia Legislativa a não votar a diretriz do governador, ao invés de chamar a unidade junto aos professores em greve e unificar as pautas diante da necessidade de alavancar a luta pela democratização do ensino e contra a precarização.
É por isso que fazemos um chamado à gestão Veredas que dirige nosso Centro Acadêmico, o Caell, para que convoque uma assembleia onde possamos discutir que medidas tomaremos para desde já construir esta aliança.
É necessário que nos posicionemos firmemente contra a Univesp de Serra e Rodas e nos organizarmos em solidariedade ativa à greve dos professores do estado e das demandas dos trabalhadores efetivos e terceirizados da USP, junto ao apoio à ocupação do Coseas! Desde já chamamos todos os estudantes que compreendem a importância disto para a ação: como faremos isso na Letras e na USP? Como formaremos um bloco da USP ato dos professores na sexta-feira? Faremos uma reunião na terça-feira, às 18:00 em frente ao espaço dos estudantes das Ciências Sociais, perto da xerox.

Todos ao ato de sexta, concentração 13h na História.
Hoje são eles, amanhã seremos nós!

Movimento A Plenos Pulmões
http://movplenospulmoes.blogspot.com/
appletras@gmail.com

Pão e Rosas
http://nucleopaoerosas.blogspot.com/

Boletim A Plenos Pulmões - História USP n°1


































terça-feira, 2 de março de 2010

Material calourada USP 2010: Romper o diálogo com Rodas. Abrir o diálogo com a juventude e os trabalhadores de dentro e fora da universidade!

A Universidade que temos: um debate sobre a situação da USP em 2010

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Material para as calouradas

Movimento A Plenos Pulmões e Grupo de Mulheres Pão e Rosas– LER-QI e Independentes

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Boas Vindas! E nem tão boas notícias...

Quem entra agora na universidade vê muitos motivos para comemorar: trata-se da terra prometida da excelência e do futuro promissor. Queremos recepcionar os calouros – que há tão poucos dias temiam ser barrados pelo filtro do vestibular -, com uma discussão sobre todas essas promessas.

Em um Brasil dividido e repleto de contradições, a universidade não está isolada, e é disputada por diferentes interesses. Governos procuram atrelar ensino e pesquisa ao mercado e à produção de lucro, especialmente através de “parcerias” que privatizam a universidade, dando os direitos sobre o conhecimento produzido a grandes empresas. Ao contrário, pensamos que é a serviço da maioria do povo que deve estar a universidade.

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Os ataques à universidade... e as iniciativas de resistência!
Para impor, ano após ano, seu projeto precarizador e privatizante de universidade, o governo conta com a mais profunda falta de democracia em sua gestão. A universidade é governada pelo reitor e pelo Conselho Universitário (C.O.), uma casta de poucos professores titulares, na maioria diretamente ligados às empresas e fundações privadas que se beneficiam da privatização da USP.

Desde 2000, e mesmo antes, ao lado de gerações de estudantes combativos, o SINTUSP, sindicato de trabalhadores da USP, esteve sempre na linha de frente dos processos de enfrentamento a tal projeto, barrando ataques importantes à qualidade de ensino, como cortes de verbas, e lutando contra a deterioração do trabalho na universidade, particularmente na defesa dos trabalhadores terceirizados.

Muitos dos que estão entrando agora viram as notícias nos jornais, ou ouviram falar por meio de amigos, familiares, na rua ou na escola, sobre a histórica ocupação da reitoria que durou mais de 50 dias em 2007. Uma luta que marcou a universidade, colocou lado a lado estudantes e funcionários da USP, resistindo contra os decretos do governo Serra – que então buscavam acabar de vez com a autonomia universitária e abrir caminho para um processo de privatização geral do conhecimento gerado na USP, e da própria universidade – e que terminou quase derrubando então a reitora Suely Vilela.

Em 2009, os trabalhadores da USP organizaram uma forte greve de dois meses em defesa de seus salários e pela readmissão de Brandão, dirigente do SINTUSP vítima de uma demissão política inconstitucional que é o ápice do processo de repressão política na universidade, com diversos processos punitivos a estudantes e trabalhadores. Estudantes começavam a se organizar contra a nova forma que o governo dá à precarização do ensino, a UNIVESP – Universidade Virtual do Estado de São Paulo, um programa de sucateamento e diminuição de custos do ensino, dirigido particularmente às licenciaturas para formação barata de professores, e que se enquadra no ataque mais geral dos governos brasileiros à educação, de transformação radical de suas bases através do ensino à distância de baixa qualidade. Em Junho, governo e reitoria reagem com uma medida ainda mais profunda de repressão política na universidade, que é ocupada militarmente pela Força Tática da PM, culminando na repressão violenta a estudantes e trabalhadores através de cassetes, balas de borracha e bombas que invadiam prédios de aula. A resposta foi uma forte greve das três categorias, massiva entre trabalhadores, que, novamente, quase derruba a reitora.

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Rodas: o novo reitor de Serra

Recompor o abalado regime universitário e retomar para o governo o controle sobre a USP, fechando pela direita a crise política existente: essa é a tarefa do recém-nomeado reitor, João Grandino Rodas. Portanto, não é por acaso que, pela primeira vez desde a ditadura, Serra ousa ignorar até mesmo a já tão anti-democrática escolha do reitor, deixando de ratificar o candidato mais votado pelo C.O. Afinal, o currículo de Rodas deixa claro que ele é o nome certo para o papel: como advogado, esteve ao lado da ditadura procurando inocentar o Estado de sua responsabilidade em casos de tortura e assassinato; como diretor da Faculdade de Direito, em 2007 foi pioneiro em colocar a Tropa de Choque da PM dentro da USP para reprimir manifestações – medida que defendia contra a ocupação da reitoria ; em 2008 foi responsável pela aprovação no C.O. de uma resolução que recomendava o uso de força policial para reprimir greves e manifestações políticas na USP e, em 2009, defensor da histórica ocupação militar da universidade que reprimiu duramente a organização de estudantes e trabalhadores.

No entanto, as lutas travadas desde 2007 abalaram profundamente o regime de poder da USP e, para tentar cumprir sua missão, Rodas – o grande nome da repressão – precisa aparecer como o reitor do “diálogo”, compondo um governo com distintos setores da fragmentada burocracia acadêmica, e acenando com pequenas concessões a estudantes e trabalhadores, como mesas de negociação e um discurso sobre a “necessidade de reformas democratizantes”.

O “diálogo” de Rodas, portanto, só serve à implementação daqueles mesmos projetos precarizantes e privatizantes. E mesmo assim não vai longe: já na posse de Rodas, um ato de estudantes foi duramente reprimido, resultando em 3 presos e vários feridos, mostrando que, para quem recusa esse “diálogo”, o que há é mais repressão.

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E que universidade queremos?

Ao contrário, o que queremos discutir com os estudantes é o projeto de uma universidade a serviço dos trabalhadores e da maioria oprimida e explorada da população. Um projeto para transformação não só da USP, mas do conjunto da educação, que possa ser implementado através da aliança dos estudantes de todo o Brasil, das universidades públicas e privadas, com a maioria da juventude que tem acesso negado à universidade, particularmente a pública, e com a maioria oprimida da população.

Com base nessa aliança, é preciso lutar pelo fim do vestibular e pelo livre acesso da juventude, hoje massivamente excluída dela, à universidade pública, com vagas para todos; pela expansão de vagas através das verbas que hoje são repassadas aos capitalistas para salvá-los de sua crise (por exemplo R$ 8 bi que Serra e Lula deram somente à Ford e à GM) e da estatização dos grandes monopólios de ensino privado, grande parte imperialistas, que detém 75% das vagas no ensino superior, ditam a política educacional brasileira e geram remessas massivas de lucro (o faturamento só do grupo Anhanguera, por exemplo, no 3° trimestre de 2009 foi de R$331,7 milhões) através das mensalidades exorbitantes pagas justamente pelos setores mais explorados da população, quando chegam a ter acesso ao ensino superior. O acesso à educação é uma questão democrática mínima, elementar, e não haverá democracia na universidade enquanto existir o vestibular ou qualquer filtro social que exclua a juventude dela.

É preciso lutar por uma universidade com uma estrutura de poder radicalmente democrática, gerida por todos que a compõem - estudantes, trabalhadores e professores, e na proporção em que a compõem, sem distinção, ao lado das organizações operárias e populares. Uma universidade que produza conhecimento voltado à melhoria da vida da maioria da população, em que a farmácia desenvolva remédios a baixo custo, e não patentes de cosméticos para a Avon, e as engenharias e o urbanismo, ao invés de criar patentes para a Samsung, sirvam para pôr fim às enchentes que nos últimos meses levaram cerca de 100 pessoas à morte, e deixaram milhares desabrigadas, só em São Paulo.

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O DCE da USP entrando no diálogo com Rodas

Queremos abrir um debate a partir da calourada organizada pela gestão do Diretório Central dos Estudantes (DCE) “Transformar o tédio e Melodia”, integrada pelo PSOL.

Ao longo de toda a preparação da calourada, travamos a luta política para que essa atividade fosse parte de uma campanha em solidariedade ativa ao povo haitiano, contra as tropas de Lula e do imperialismo, e para que preparasse o movimento para as tarefas que se colocarão neste ano, particularmente a de mostrar a todos os estudantes quem é Rodas e denunciar o significado do diálogo proposto pelo REItor, que tenta esconder a precarização do ensino e a repressão na universidade. Ao contrário, todos os materiais do DCE para a calourada agradecem o apoio da reitoria para sua impressão e distribuição, e para a realização da própria calourada. Mas será que esse dinheiro vem de graça? Será coincidência que, nessa conjuntura, não se leia sequer uma única vez, ao longo das 10 páginas do manual do calouro, o nome de Rodas? Ou ainda, será que o reitor financiaria uma calourada que preparasse uma luta contra os projetos que defende?

Não. E o mais grave é que esses favores materiais são sintoma de uma ligação política. Vejamos... No manual do calouro, após a caracterização do vestibular como filtro social, esperaríamos um chamado à luta pelo seu fim. No entanto, o que lemos é “Defendemos a ampliação do INCLUSP, a criação de cotas e a expansão planejada de vagas”. Frente à profunda escassez de vagas na universidade pública (25% do total e cerca de 2% da necessidade), e à exclusão da maioria trabalhadora da juventude, é o que defende essa gestão do DCE... e também Rodas em sua plataforma como candidato a reitor! Para um reitor que tem muito mais ataques do que concessões reais a oferecer, nada mais conveniente do que uma direção estudantil que apresenta como suas “exigências” justamente aquilo que ele pode dar, e que tenta se preparar para fantasiar de “conquistas próprias” dessa direção estudantil as migalhas com que Rodas já acena para fechar a crise política existente. Uma fantasia com que a gestão do PSOL no DCE já tenta se travestir, apresentando-se como disposta à luta, chamando um ato para a semana da calourada por uma audiência pública com a reitoria sobre as cotas... a que Rodas já se pronunciou favorável antes de sua nomeação! – até porque a aplicação das cotas nas universidades federais já mostrou que, mesmo com elas, o acesso ao ensino universitário continua elitista e meritocrático.

É preciso ter claro: a independência do Movimento Estudantil e de sua principal entidade frente à REItoria e aos governos é uma questão elementar. Garanti-la é uma das primeiras tarefas dos estudantes nesse ano. Não se pode combater a destruição do ensino e a privatização da universidade trocando favores com seus representantes e fantasiando de reivindicação as suas concessões. Um exemplo disso é a UNE, também integrada pelo PSOL – e que levou sua representação ao Haiti para apoiar a ocupação militar pelo exército brasileiro. A UNE, para manter seus privilégios concedidos pelo governo federal, além de defender as tropas, defende os projetos de Lula para a universidade, como o ProUni e o Reuni, dizendo demagogicamente que hoje o jovem pobre pode ter acesso ao Ensino Superior através das concessões que o Governo federal oferece, mas omitindo que estas se dão por trás também de duros ataques à educação, e principalmente mantendo o filtro altamente elitista do vestibular e favorecendo os monopólios da educação superior no país. Pelo papel que a UNE cumpre hoje, queremos abrir com os estudantes a discussão sobre a possibilidade de a recém criada Assembléia Nacional dos Estudantes – Livre cumprir a tarefa necessária de coordenar as lutas dos estudantes nacionalmente.

É preciso romper o diálogo com Rodas, via do controle do governo sobre a universidade, e, no lugar, abrir o diálogo e firmar uma aliança profunda com os trabalhadores de dentro e de fora da universidade e com a maioria excluída da juventude, via da construção de uma nova universidade, a serviço dos trabalhadores e da população!

E quem decidiu que a principal entidade dos estudantes da USP aceitaria o diálogo de Rodas? Quem decidiu que suas bandeiras seriam aquelas já levantadas no manual do calouro? Os estudantes? Não: a gestão do PSOL no DCE, de acordo com seus interesses e à revelia dos interesses dos estudantes. É preciso que se organize, já para daqui a duas semanas, a primeira Assembléia Geral dos Estudantes da USP de 2010, para determinar democraticamente a posição de nossa entidade nessas questões.

O que está por trás do conteúdo desta calourada?

Nessa calourada, organizada por uns poucos representantes do PSOL no DCE e em alguns CAs, ao mesmo tempo em que se troca favores com Rodas e se defende sua política, o SINTUSP e os setores combativos do Movimento Estudantil, que protagonizaram todo o grande processo político de lutas desde 2007, não têm voz alguma em qualquer espaço. Nenhuma voz aos setores que vêm resistindo aos projetos do governo... e um acento de honra nas mesas de debate para grandes nomes do PT e do PSDB! Para falar de educação, Paulo Renato Souza, ministro da Educação do governo FHC, responsável pela expansão anárquica do ensino privado e pela destruição e privatização do ensino no Brasil, e atual secretário da educação do governo Serra, cargo em que cumpre essencialmente o mesmo papel. E em outro debate, Paulo Vanucchi, Ministro dos Direitos Humanos do governo Lula, que retrocede frente aos setores mais reacionários do exército no ponto do PNDH sobre a tortura na ditadura (será que terá algo a dizer sobre nosso reitor Rodas, defensor dos torturadores?), e ainda embeleza a imagem do governo Lula, que mantém suas tropas no Haiti para reprimir a população, cometendo os maiores crimes contra os direitos humanos (sobre os quais Vanucchi não se pronuncia).

Mas será que é só em busca das migalhas que caem da mesa de negociações do Reitor que está a gestão do PSOL no DCE? Por que então, além de excluir da calourada os protagonistas das lutas recentes, chamar grandes nomes do PT e do PSDB? É que o PSOL tem clara sua agenda para 2010: as eleições burguesas. E está disposto a colocar as entidades dos estudantes a serviço dessa política. Nem Haiti, nem Rodas: o que, desde a calourada, pauta a atuação política da gestão do DCE da USP são as eleições, e a necessidade de se colocar como principal alternativa de esquerda à polarização entre PT e PSDB.

O DCE, no entanto, é a entidade dos estudantes da USP, e o grande desafio que lhe está posto agora é se ligar aos trabalhadores da USP, ao SINTUSP, à juventude excluída da universidade e à maioria da população para transformar a universidade, começando pela luta contra Rodas e os projetos que representa.

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A ocupação militar do Haiti

O terremoto que atingiu o Haiti trouxe caos para seu povo. Trata-se de uma enorme catástrofe natural. No entanto, não há nada de natural em suas consequências, nem na miséria que assola os haitianos há séculos, e que é produto de diversas ocupações militares, ditaduras e saques desde que o povo conquistou a independência na única revolução de escravos vitoriosa da história.
Não há nada natural na ocupação das tropas da ONU, no país desde 2004, com o exército brasileiro de Lula à sua frente. Não há nada natural nos dez mil soldados americanos presentes no país. Como exemplo do papel da “ajuda humanitária” das tropas, vimos que enquanto os próprios haitianos resgatam familiares dos escombros, os soldados defendem mercados saqueados e instalações da ONU, matam haitianos que se rebelam contra a sua condição, estupram mulheres e meninas, e impedem o pouso de aviões com comida e remédios. E por que tantos soldados e tão poucos médicos, engenheiros, etc.?

Já é difícil esconder a ligação entre a liderança brasileira desta ocupação e o interesse de Lula em um acento no Conselho de Segurança da ONU. Até o comando do exercito deixa escapar a concepção do Haiti como “laboratório” para ação repressiva nas favelas cariocas. Mais do que isso, a auto imposição dos EUA no controle da ocupação evidencia como esses governos não apenas fazem do Haiti um grande negócio - disputando, cada um de acordo com suas condições, sua fatia no bolo dos lucros da “reconstrução” – mas atendem a seus interesses políticos de manutenção do controle sobre um país devastado, lar de um povo que protagonizou algumas das maiores lutas da história.

Contra supostos interesses humanitários que camuflam os reais interesses comerciais e políticos envolvidos na ocupação e reconstrução do Haiti, é necessário que o povo haitiano seja quem controle toda a ajuda humantirária recebida, a partir de suas organizações operárias e populares. Há que se forjar uma ampla campanha de solidariedade operária e popular ao povo haitiano, e sendo o exército brasileiro de Lula que está à frente das tropas da ONU, torna-se ainda maior nossa responsabilidade de lutar por sua retirada.

Nesse sentido fazemos um chamado a todos os estudantes e organizações a construir uma forte campanha pela retirada das tropas brasileiras e imperialistas do Haiti. Particularmente, chamamos os companheiros do PSTU, que já vêm levantando essa discussão, a construir esta campanha em unidade, já desde a calourada.

Todo estudante que se revolte com esta situação deve colocar-se ativamente nesta luta. Por isso chamamos todos a se somarem às atividades, atos, debates, etc.

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Calendário
QUA. 24/2, 16h na Letras – Roda de debate sobre a situação no Haiti
QUI. 25/2, 11h na Letras – Mesa de debate sobre o Haiti, com Mara Onijá (Grupo de Mulherer Pão & Rosas), SINTUSP e convidados a confirmar
QUI. 25/2, 18h em frente ao consulado do Haiti (Av.Paulista, 1499) – ATO pela retirada das tropas do governo de Lula e dos EUA do Haiti (dia da visita de Lula ao Haiti)
DOM. 28/2, a partir das 14h – Mesa de debate e jornada cultural com bandas e artistas, em solidariedade ao povo haitiano (o dinheiro arrecadado será revertido para organizações operárias e populares no Haiti)

Veja o que está ocorrendo no Haiti em: http://solidariedadeaohaiti.blogspot.com/

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