terça-feira, 23 de março de 2010

Carta do Movimento A Plenos Pulmões aos estudantes de Letras

Carta aos estudantes de Letras e ao Caell

O nosso curso abriga o maior número de estudantes em toda a USP. É daqui também que sairão grandes contingentes de professores para ingressar na rede pública de ensino. Isto faz com que, por diferentes aspectos, tenhamos necessidade e responsabilidade em refletir a situação da educação.
A começar pelo ensino básico, não é novidade para absolutamente ninguém dizer que a situação é bastante alarmante. Há tempos a escola pública passa por um processo de desmanche. A lista dos ataques que os professores sofrem é bem extensa; entre eles podemos citar o arrocho e congelamento que garantem um dos menores salários de professores estaduais do país; a divisão entre os efetivos e os temporários (48% de toda a categoria!) que não tem uma série de direitos básicos; as péssimas condições de trabalho; a ausência de autonomia didática diante das famigeradas apostilas do governo; entre tantas outras. A greve dos professores da rede pública hoje é uma medida concreta de luta contra estes ataques ao ensino. Suas reivindicações centrais são por melhores salários, contra as absurdas avaliações de professores que implementam divisão salarial e responsabilizam os professores pelo estado calamitoso da educação pública, e contra as inúmeras leis que atacam o ensino básico. Sua greve está forte e continua crescendo, ao contrário do que diz o governo Serra, que afirma que apenas 1% da categoria está parada (havia mais do que isso só no ato realizado na semana passada na Av. Paulista, que teve mais de 40.000 professores). Esta é a greve mais importante em curso hoje no país.
A precarização do ensino nos afeta não apenas como futuros professores, mas também como estudantes universitários, e na Letras ela é ainda mais intensa do que na maioria dos cursos. A “promoção” de Rodas, o favorito de Serra, como novo reitor da USP, tem a intenção de aprofundar as medidas com este caráter. O aumento de 45% das verbas destinadas à terceirização; a falta de verbas para a construção de um prédio que efetivamente possa atender às necessidades do curso; a falta de apoio da universidade para que os estudantes mais pobres possam estudar (falta de moradias, bolsa trabalho, etc.); expulsões noturnas de estudantes do Crusp; o fortalecimento das fundações de direito privado e outras medidas privatizantes e que direcionam os recursos da Universidade apenas para áreas com interesses ligados ao mercado e a empresas privadas; a implementação da Univesp (universidade virtual centrada em cursos de licenciatura, como pedagogia, ciências, português, etc. – o futuro professor sem direito à sala de aula).
A política de Serra e de seu escolhido Rodas é a mesma: dividir para derrotar. No ensino básico a divisão entre efetivos e temporários, e agora também entre os próprios efetivos com as diversas categorias baseadas nas provas de promoção. Na universidade Rodas aprofunda a divisão entre trabalhadores aumentando a terceirização; entre professores e funcionários concedendo aumentos apenas aos docentes e quebrando a isonomia salarial; entre estudantes prometendo migalhas e conseguindo calar o DCE, que já aceita calado até a implementação da Univesp (ignorando as balas de borracha e bombas de gás em 2009 sob as ordens do magnífico reitor, quando nem era reitor ainda).
Os terceirizados constituem a parcela mais explorada e com menos direitos dentre os trabalhadores da USP, e são constantes as novas ofensivas sobre eles. Atualmente os trabalhadores da empresa Personal estão há três meses sem receber salários e Rodas já se pronunciou no Conselho Universitário dizendo que está cansado de terceirizados batendo à porta da reitoria e que não é sua responsabilidade resolver este problema. Além disso, o Sintusp foi proibido por liminar da justiça de defender os trabalhadores terceirizados, estando sujeitos a uma multa de dez mil reais se o fizerem! Nós podemos fazer a diferença nos colocando ao lado destes trabalhadores lutando pelos seus direitos e dizer a Rodas não admitiremos mais trabalho semi-escravo nesta universidade e nem sua demagogia.
Temos que dizer chega! Nós só conseguiremos derrotar os ataques se conseguirmos nos unir dentro da universidade enfrentando a demagogia de Rodas e nos lançando decisivamente para construir uma sólida aliança com nossos maiores aliados em defesa da educação pública, que são os trabalhadores da USP e os professores em greve há mais de duas semanas contra a precarização do ensino. Em 2000, quando os estudantes e funcionários da USP se uniram em uma forte greve, pela primeira vez demonstraram o potencial dessa aliança, derrubando um projeto de lei que previa a cobrança de mensalidades na USP. Em 2007 conseguiram questionar os decretos de Serra. Em 2009, levamos a luta contra a Univesp e pelo Fora PM. Agora é hora de aprofundarmos esta aliança não apenas aqui, mas para fora dos muros da universidade, sabendo que os trabalhadores da USP e seu sindicato, o SINTUSP, e os professores do ensino básico são nossos principais aliados e que lutamos por um só objetivo: contra as políticas de precarização do ensino.
É fundamental debatermos como desmascarar Rodas hoje, quando a gestão do DCE recebe dinheiro da reitoria para a sua calourada em troca de não dizer uma palavra contra Rodas, aumentando a ilusão em seu suposto “diálogo”. Ainda mais sabendo que este mesmo DCE quer tomar suas decisões por fora de um debate com o conjunto dos estudantes, como ficou claro no último Conselho de Centros Acadêmicos (CCA), em que aprovou a pauta dos estudantes para o Fórum das Seis (que reúne as entidades de professores, estudantes e funcionários das três universidades estaduais paulistas) que inclui absurdos como uma comissão para “acompanhar a implementação da Univesp”. Precisamos lembrar a todos a verdadeira face de Rodas, que foi o responsável por colocar a PM dentro do campus para reprimir manifestações, a começar pela Faculdade de Direito que dirigia em 2007 quando chamou a tropa de choque.
Hoje o Caell se cala diante da posição do DCE que quer negociar com Rodas pelas costas dos estudantes. Alem disso, diante do novo ataque proposto pelo Serra, a terceirização do ensino de línguas nas escolas públicas, o CA tem organizado os estudantes para pressionar os deputados na Assembléia Legislativa a não votar a diretriz do governador, ao invés de chamar a unidade junto aos professores em greve e unificar as pautas diante da necessidade de alavancar a luta pela democratização do ensino e contra a precarização.
É por isso que fazemos um chamado à gestão Veredas que dirige nosso Centro Acadêmico, o Caell, para que convoque uma assembleia onde possamos discutir que medidas tomaremos para desde já construir esta aliança.
É necessário que nos posicionemos firmemente contra a Univesp de Serra e Rodas e nos organizarmos em solidariedade ativa à greve dos professores do estado e das demandas dos trabalhadores efetivos e terceirizados da USP, junto ao apoio à ocupação do Coseas! Desde já chamamos todos os estudantes que compreendem a importância disto para a ação: como faremos isso na Letras e na USP? Como formaremos um bloco da USP ato dos professores na sexta-feira? Faremos uma reunião na terça-feira, às 18:00 em frente ao espaço dos estudantes das Ciências Sociais, perto da xerox.

Todos ao ato de sexta, concentração 13h na História.
Hoje são eles, amanhã seremos nós!

Movimento A Plenos Pulmões
http://movplenospulmoes.blogspot.com/
appletras@gmail.com

Pão e Rosas
http://nucleopaoerosas.blogspot.com/

Um comentário:

  1. Olá!

    Gostaria, primeiro, de parabenizar o movimento A pleno pulmões pela luta que realiza hoje em favor da melhora da Educação em nosso país. Gostaria, também, de convidar os leitores deste blog para uma atividade que o GD da Univesp, promovido pelo CAELL, organizará nesta quinta-feira, dia 25, com a presença de professores da APEOESP e militantes desse movimento, que participam do GD. Será às 18 horas na entrada da faculdade de LETRAS.

    Abraços

    João Paulo de Cária
    diretor do CAELL - USP
    Gestão VEREDAS

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